quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Crime em navio ancorado em porto é de competência da Justiça estadual

A 3ª Vara Criminal do Guarujá (SP) deverá processar e julgar a ocorrência de homicídio culposo em navio ancorado para carregamento. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que o simples fato de o crime ter ocorrido em embarcação de grande porte não atrai a competência da Justiça Federal de Santos (SP). 

Segundo a perícia, dois estivadores foram atingidos enquanto estavam na rampa de acesso à embarcação por duas pranchas metálicas móveis. A amarração teria sido feita de forma inadequada, resultando no rompimento de corrente que atrelava as pranchas ao guincho e causando o acidente. 

Conflito 

Para o juiz do Guarujá, o crime ocorrido no carregamento do navio italiano Grande Buenos Aires deveria ser processado pela Justiça Federal. O juiz da 3ª Vara Federal de Santos, porém, divergiu, sustentando que a embarcação não estava em situação de internacionalidade, mas ancorado, e as vítimas não eram nem passageiros nem funcionários do navio. Daí o conflito de competência submetido ao STJ. 

O ministro Gilson Dipp concordou com o entendimento do juiz federal. Segundo o relator, a competência federal não se configura com o simples fato de o caso ter ocorrido no interior de embarcação de grande porte. “Faz-se necessário que este se encontre em situação de deslocamento internacional ou ao menos em situação de potencial deslocamento”, esclareceu. 

“O que se depreende dos autos, até o momento, é que a embarcação encontrava-se ancorada, para fins de carregamento, o qual, inclusive, estava sendo feito por pessoas – no caso as vítimas – estranhas à embarcação, visto que eram estivadores e não passageiros ou funcionários desta”, concluiu o ministro. 

STJ - CC 116011

sábado, 26 de novembro de 2011

Rio: desembargador é parado em blitz e dá voz de prisão a PM



Agentes da Operação Lei Seca, da Secretaria de Estado do Rio de Janeiro, faziam uma blitz na avenida Princesa Isabel, em Copacabana, na madrugada desta sexta-feira, quando abordaram um veículo oficial, que levava o desembargador Cairo Ítalo França David. Após o motorista se negar a fazer o teste do bafômetro, o magistrado desceu do carro e deu voz de prisão a um dos agentes.

De acordo com o governo do Estado, o desembargador alegou que seu veículo não poderia ser fiscalizado por ele ser uma autoridade, antes de dar voz de prisão para um tenente da Polícia Militar que integrava a operação.

O carro do magistrado era dirigido por Tarciso dos Santos Machado, que não quis estacionar na baia de abordagem e parou o veículo no meio da rua. Além de se negar a fazer o teste do bafômetro, ele não quis entregar os documentos do carro.

O magistrado, o motorista e o tenente da PM foram levados para a 13ª DP (Ipanema), onde o caso foi registrado. Os agentes da Operação Lei Seca também foram à delegacia prestar depoimento como testemunhas. Após ouvir os envolvidos, o delegado concluiu que não houve abuso de autoridade por parte dos agentes da operação e liberou o policial.

O veículo do desembargador foi rebocado e o motorista, multado por se recusar fazer o teste do bafômetro e não entregar os documentos.


Fonte: Portal Terra

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Prisão-albergue reduz reincidência criminal entre os presos de Londrina

O sistema de prisão-albergue domiciliar, adotado em Londrina, no Paraná, desde 2010, é responsável pelo baixo índice de reincidência criminal no município. “Enquanto este índice em outras partes do país chega a 80% aqui é 4%”, disse a juíza Márcia Guimarães, da Vara de Execuções Penais.
Segundo ela, o sistema permite ao preso o acesso ao estudo e ao trabalho. Assim, depois de cumprir a pena, ele não enfrenta dificuldades de entrar no mercado produtivo. Márcia Guimarães lamenta o fato de não existirem vagas suficientes no regime semiaberto para atender um número maior de presos com condições de receber o benefício.
“Em breve, conforme já fomos comunicados, será construída uma prisão nesta modalidade de semiaberto no município. Por enquanto, a maioria dos presos é encaminhada para a Colônia Penal Agroindustrial de Piraquara, que está lotada”, disse.
Para conseguir uma vaga no regime semiaberto, o preso precisa cumprir uma série de requisitos, segundo o vice-diretor da Penitenciária Estadual 2, Adílson Barbosa de Souza. Além do bom comportamento, de acordo com ele, o detento tem que ter residência fixa, garantia de uma vaga de emprego e, de preferência, ter vínculos com parentes na cidade.
Mas para atingir esse estágio, segundo a juíza, o preso também passa por um monitoramento. “Durante o processo de progressão do regime fechado ao semiaberto, o preso é acompanhado por uma equipe multidisciplinar e, estando em condições, ele é beneficiado”, explicou.
Fonte: Portal Jornal do Brasil

terça-feira, 22 de novembro de 2011

DVD - CURSO COMPLETO: Prática da Advocacia Criminal



 

Conteúdo dos DVD's:

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Supremo blinda políticos e protege identidade de 152 investigados

► Reportagem publicada em 7.nov.2011 em O Estado de S. Paulo
Estátua da Justiça, STFO Supremo Tribunal Federal (STF) mantém em sigilo a identidade de 152 autoridades suspeitas de cometer crimes. Um procedimento adotado no ano passado como exceção, que visava a proteger as investigações, acabou tornando-se regra e passou a blindar deputados, senadores e ministros de Estado. Levantamento feito pelo Estado em aproximadamente 200 inquéritos mostrou que os nomes dos investigados são ocultados.
Apenas suas iniciais são expressas, mesmo que o processo não tramite em segredo de Justiça, o que torna praticamente impossível descobrir quem está sendo alvo de investigação. O Estado já havia revelado, em dezembro do ano passado, a adoção dessa prática no STF.
O inquérito aberto contra a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo dinheiro do esquema do mensalão do DEM no Distrito Federal, aparece no site do Supremo apenas com as iniciais da parlamentar: JMR (Jaqueline Maria Roriz). Outros seis inquéritos trazem as iniciais L.L.F.F. Só foi possível identificar que o investigado era o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) porque outra investigação com a mesma sigla foi levada ao plenário do tribunal recentemente.
Em outros casos, é possível inferir quem é o investigado por meio de uma pesquisa. Sabendo que a investigação foi aberta em um Estado específico, é necessário cruzar as iniciais com todos os nomes de deputados e senadores eleitos por esse mesmo Estado. Por esse procedimento é possível inferir que um inquérito aberto contra L.H.S. em Santa Catarina envolve o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC). Nesse caso, o Estado confirmou que se trata efetivamente do parlamentar e ex-governador catarinense. Mas na maioria das vezes essa pesquisa não é suficiente para saber quem está sob investigação no Supremo.
Proteção. A regra de identificar os investigados no STF apenas pelas iniciais foi baixada pelo presidente do tribunal, ministro Cezar Peluso, no fim do ano passado. A inovação tinha por objetivo proteger investigações que poderiam correr em segredo de Justiça. Esse procedimento está amparado no regimento interno do STF. Não se aplica aos demais tribunais.
Pela regra, o ministro que for sorteado para relatar a investigação analisa se o processo deve ou não correr em segredo de Justiça. Se concluir que não há motivos para o sigilo, as iniciais serão tiradas e o nome completo será publicado no site.
O levantamento nos mais de 200 inquéritos mostrou que apenas o ministro Celso de Mello tem como padrão tirar essa proteção a investigados com foro privilegiado. Ele já tem despacho padrão para esses casos e é a primeira providência que adota quando o processo chega a suas mãos.
O primeiro desses despachos foi dado no processo que envolve o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ari Pargendler, acusado de injúria por um ex-estagiário do STJ. Na decisão, Celso de Mello afirma que o sigilo e o tratamento diferenciado a essas autoridades são incompatíveis com o princípio republicano: "Cabe acentuar, desde logo, que nada deve justificar, em princípio, a tramitação, em regime de sigilo, de qualquer procedimento que tenha curso em juízo, pois, na matéria, deve prevalecer a cláusula da publicidade".
"Não custa rememorar, tal como sempre tenho assinalado nesta Suprema Corte, que os estatutos do poder, numa República fundada em bases democráticas, não podem privilegiar o mistério", acrescentou.
Crítico do procedimento criado por Peluso, o ministro Marco Aurélio Mello também retirou esse segredo em três dos processos que estavam em seu gabinete.
Num deles, ressaltou ser "princípio básico, na administração pública, a publicidade dos atos". E lembrou que o processo, antes de o investigado se tornar deputado, tramitou em outro tribunal sem esse sigilo. Por isso, mandou que fosse retificada a autuação para que constasse o nome inteiro do deputado Fernando Jordão (PMDB-RJ). No entanto, apesar de ter alterado alguns dos inquéritos que estão sob sua relatoria, Marco Aurélio ainda cuida de alguns que trazem apenas as iniciais dos nomes dos investigados.
Os demais ministros do Supremo não alteram a autuação dos inquéritos. Por isso, praticamente todos os procedimentos que chegaram ao STF nos últimos meses tramitam sem que se possa saber quem está sendo investigado.

Peluso protege identidade de juízes sob investigação

AMB afirma que site revelou nomes de magistrados processados em tribunais

Presidente do STF recua depois de publicar iniciais de juízes investigados por corregedores estaduais
FREDERICO VASCONCELOS
DE SÃO PAULO


Conselho Nacional de Justiça tirou ontem do site as iniciais de magistrados que respondem a processos disciplinares em tribunais estaduais -o que atende em parte a um pedido da Associação dosMagistrados Brasileiros.

Na semana passada, o presidente da entidade, Henrique Nelson Calandra, enviou ofício ao ministro Cezar Peluso, presidente do CNJ, alegando que a abreviatura poderia levar à identificação dos magistrados, constrangendo-os, e pediu a retirada da lista.

A iniciativa de Peluso foi tomada em outubro, depois que vieram à tona as divergências com a corregedora nacional, Eliana Calmon, que afirmara a existência de "bandidos" atrás da toga.

Na ocasião, Peluso recebeu 15 corregedores e anunciou que centralizaria a divulgação de dados no site do CNJ na área da presidência, para dar maior transparência.

A comunicação direta entre o CNJ e as corregedorias estaduais é atribuição da ministra Calmon. Ela tem evitado expor publicamente as divergências com Peluso. No dia 14, ela disse que os dados da corregedoria são mais precisos que os divulgados pela presidência doCNJ e sugeriu que havia riscos na divulgação das iniciais dos juízes.

No ofício que enviou a Peluso, o presidente da AMB citou que um site havia listado nomes de juízes sob investigação a partir das iniciais.

A lista começou a ser divulgada em 12 de novembro. Por ela, havia 1.353 processos em tribunais estaduais. A corregedoria nacional tem em seus cadastros 2.300 processos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Corregedoria investiga enriquecimento de 62 magistrados sob suspeita

Corregedoria investiga enriquecimento de 62 magistrados sob suspeita
O principal órgão encarregado de fiscalizar o Poder Judiciário decidiu examinar com mais atenção o patrimônio pessoal de juízes acusados de vender sentenças e enriquecer ilicitamente.

A Corregedoria Nacional de Justiça, órgão ligado ao Conselho Nacional de Justiça, está fazendo um levantamento sigiloso sobre o patrimônio de 62 juízes atualmente sob investigação.
O trabalho amplia de forma significativa o alcance das investigações conduzidas pelos corregedores do CNJ, cuja atuação se tornou objeto de grande controvérsia nos últimos meses.
Associações de juízes acusaram o CNJ de abusar dos seus poderes e recorreram ao Supremo Tribunal Federal para impor limites à sua atuação. O Supremo ainda não decidiu a questão.
A corregedoria começou a analisar o patrimônio dos juízes sob suspeita em 2009, quando o ministro Gilson Dipp era o corregedor, e aprofundou a iniciativa após a chegada da ministra Eliana Calmon ao posto, há um ano.
"O aprofundamento das investigações pela corregedoria na esfera administrativa começou a gerar uma nova onda de inconformismo com a atuação do conselho", afirmou Calmon.
Esse trabalho é feito com a colaboração da Polícia Federal, da Receita Federal, do Banco Central e do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que monitora movimentações financeiras atípicas.
Fonte: Folha S.Paulo

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Juiz adota videoconferência para beneficiar presos de Guarulhos

Em uma iniciativa pioneira, os sentenciados que cumprem pena nos presídios de Guarulhos são recebidos às sextas-feiras pelo juiz Jayme Garcia dos Santos Junior, da Vara de Execuções Criminais. O objetivo é entrevistar os presos sobre o andamento de suas execuções penais. As entrevistas são feitas por videoconferência. Semanalmente, de 25 a 30 presos, além de receber informações dos seus processos ainda podem fazer perguntas ao juiz. 

A ideia surgiu da percepção, durante as visitas realizadas nos presídios, de que “uma das maiores fontes de angústia, ponto de aflição do sentenciado é a falta de informação sobre o andamento de sua execução. Ao visitar o presídio o tempo é curto e só dava para conversar com cinco ou seis presos, pois tinha que vistoriar dependências do presídio, orientar diretores e esclarecer dúvidas”, disse o magistrado. "Às vezes, o sentenciado já tem o lapso para algum benefício e ainda não foi feito. Verificada a situação, determino na hora que os documentos necessários sejam entregues para a apreciação do pedido do benefício, o que agiliza bastante o processo." 

A ação não para aí. Na semana seguinte, o advogado da Funap – Fundação Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel, leva o pedido para ser despachado pelo juiz. Durante a videoconferência, quando o preso tem advogado constituído, o juiz tem a cautela de alertá-lo que está no prazo de benefício e orienta para que na próxima visita de familiares avise o advogado para entrar com o pedido na Vara de Execuções Criminais. 

O projeto-piloto foi iniciado com sentenciados do regime fechado do presídio Adriano Marrey, mas em decorrência do mutirão carcerário os processos vieram para São Paulo e as videoconferências foram interrompidas. Por isso, hoje estão sendo feitas com os detentos do regime semiaberto. 

Segundo Jayme Garcia, a ideia é expandir a quantidade de audiências para três a quatro vezes por semana. "Em aproximadamente uma hora consigo passar informações para 25 a 30 presos, relatando os principais incidentes no seu processo de execução." A pretensão do aumento de dias de audiência deriva da informação dos diretores das unidades prisionais de que a novidade mudou a rotina do estabelecimento carcerário. "O preso sabe que terá a oportunidade de conversar diretamente com o juiz sobre o seu processo. Obtendo informações contribui para diminuir suas angustias." 

Ás segundas-feiras, o presídio envia a relação dos sentenciados para serem ouvidos na semana. Para não favorecer ninguém, o critério de seleção é pela antiguidade, ou seja, pela data de entrada no presídio atual. Os funcionários do cartório preparam o processo para audiência. É feito um resumo do andamento processual que é passado na audiência para cada entrevistado. “Se não fosse a ajuda da dona Shirley Nascimento e dos demais funcionários do cartório da Vara das Execuções Criminais eu não conseguiria executar esse projeto”, enalteceu o magistrado. 

“Resolvi utilizar esse aparato que o Tribunal de Justiça nos disponibilizou. Tenho apoio dos diretores dos estabelecimentos carcerários. O presídio Parada Neto não tem sala de videoconferência; sabendo da importância da entrevista, o diretor leva os presos ao Adriano Marrey. Inclusive já foi solicitada à Secretaria de Administração Penitenciária a instalação do equipamento”, disse o juiz. 

As entrevistas acontecem da seguinte forma: o sentenciado entra, senta-se em uma cadeira onde já estão sentados um advogado da Funap e o diretor do Centro de Integração e Movimentação Carcerária. O juiz cumprimenta a todos e inicia a conversa sobre o processo. Na sala de videoconferência há dois monitores de TV, um com a imagem do juiz e outro o da sala do presídio. 

Muitos sentenciados já recebem ali mesmo a notícia do seu beneficio como o de livramento condicional. Ao agradecer ao juiz os presos ouvem dele: "não tem o que me agradecer porque a conquista é sua. Não dei nada, você conquistou. Aproveite essa oportunidade e não cometa mais crimes para não ter que voltar ao cárcere. Preserve essa conquista. Não quero me decepcionar com o senhor!" 

Um dos presos ao receber a notícia de sua liberdade sorriu e disse que “era tudo que precisar ouvir” e que sua mãe estava precisando dele. Ele declarou que não cometeria nenhum crime novamente. Por mais que o juiz dissesse que a conquista era dele e que não precisava agradecer, ele agradecia. Outro, ao ouvir o juiz falar que estava em liberdade, começou a chorar de alegria. Teve ainda um sentenciado que foi perguntado pelo juiz o que ele fez, se havia cortado os cabelos, pois estava muito diferente. O preso sorrindo, meio encabulado, passou as mãos pelos cabelos e disse que “ah, eu dei uma arrumada”. 

O diretor do Centro de Integração e Movimentação Carcerária, Celso Ikier, salientou a importância da iniciativa e afirmou que os presos estão gostando muito. “Eles estão mais conscientes. O comportamento mudou muito após a implantação do projeto.” 

Para o advogado da Funap, Rubens Guimarães Júnior, o mais importante da iniciativa é a expectativa criada para o sentenciado, que se dedica mais para obter benefícios. “A videoconferência é a aproximação do juiz com a comunidade carcerária. Essa postura do magistrado faz a diferença. É um dos melhores projetos que já vi nos meus 17 anos de Funap”, declara Guimarães Jr.


Fonte: AASP

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A RAZÃO DO MEU PROTESTO

 1

*EDILSON SANTIAGO.

“Eu tenho o dever de respeitar as
Instituições, mas, como Advogado, tenho
o Direito de criticar os erros de seus
Integrantes”. Rui Barbosa.


Caros Colegas Advogados e Advogadas Paraenses,
Toda a sociedade paraense, incluindo aí a tríade da justiça vem
acompanhando atentamente os fatos inerentes à crise que se
instalou e se implantou na OAB/PA.
Está sendo provado que, mesmo após a tentativa de uma “saída
jurídica administrativa”, com a nomeação de um Interventor
Federal para serenar os ânimos. Isto não vem acontecendo.
A crise vem se agravando entre os grupos antes parceiros, hoje
antagônicos, se digladiando diariamente, o que vem agravando,
ainda mais, a imagem da OAB em nosso Estado e em todo o
Brasil pela dimensão do escândalo.
Vejamos o que dizem os jornais e os blogs que acompanham esta
guerra diária e com se tem dado o tratamento entre seus
membros e seus ex-dirigentes da Instituição: ”dilapidação do
patrimônio material da instituição; uso ilegal e ilegitimamente
de cartões corporativos em viagens ao exterior; pagamento de
despesas com aquisição de bens de marca no exterior;
pagamento de despesas em bares e restaurante; uso perdulário
de telefones celulares, com despesas de dezenas de milhares de
reais por mês; utilização de carros e demais franquias pagos
pela OAB/PA; destruição de prédio da instituição sem a devida
autorização legal; venda sob o manto da fraude de bem imóvel
da instituição; falsificação de assinatura para venda de bem
2
imóvel; compra superfaturada de bem imóvel para instituição,
assim como uso indevido de dinheiro da seccional”.
Para um leitor desavisado, a primeira vista, jamais pensaria estar
se falando de uma OAB. É notório, e são comuns às manchetes
acimas, se referindo a outras instituições pública ou privada.
Nunca, da nossa OAB/PA!
Justamente aquela que alardeava e trombeteava aos quatro
cantos os erros de todos os Poderes Públicos e ilícitos alheios.
Hoje amarga e se afunda no seu próprio veneno.
Se tudo isto for verdade, tudo isto, é financiado pelo pagamento
da anuidade de dezenas de milhares de advogados inscritos
nesta seccional. Muitas das vezes com o sacrifício do seu próprio
sustento e de seus familiares, principalmente dos Advogados
Iniciantes.
A quem cabe a nossa Ordem defendê-los com mais zelo,
dignidade e atenção, principalmente no tocante a defesa de suas
prerrogativas e sua capacitação profissional junto a ESA/PA.
Alias, já cabe aqui uma pergunta: É esta a destinação que é dada
a anuidade paga pelos advogados paraenses pela
Administração da OAB/PA?
Senhor Interventor, creio que esta resposta, lhe impõe não a
mansidão, que o senhor está pregando aos quatro cantos do
Estado, para o exercício do seu cargo.
Creio também, que o senhor não veio ao Estado a passeio. Sob
pena de passar a ideia à sociedade jurídica nacional de
“interventor faz de conta” ou “interventor cara de paisagem”.
Afinal e ao cabo de 06(Seis) meses, quanto custará aos bolsos
dos advogados paraenses a presença do Nobre Interventor
Federal em nosso Estado?
3
Mas pelo que sabemos do seu perfil, de honradez e probidade
como ex-presidente da OAB nacional, isto, assim não será.
Creio que como interventor nomeado, por aceitação de sua livre
e espontânea vontade, aceitando o “múnus” do cargo.
Deve e pode levantar tudo ao que ao senhor for levado. Doa a
quem doer. Inclusive a formalização de um Pedido de auditoria
independente nas contas passadas.
Exercendo assim seu cargo com toda a liberdade e
independência de ações de um legitimo e fiel interventor.
Sem subserviência de quem o nomeou!
E aos que concorreram por dolo, culpa, omissão, leniência,
condescendência para o estado a que chegamos às penalidades
das infrações a que incorreram.
Aos que em nada concorreram para este estado, à declaração de
sua inocência e absolvição.
Pois como por todos é sabido, e antecipadamente, o exercício de
qualquer cargo dentro do sistema OAB, é gratuito.
E, portanto, a malservação de qualquer um centavo dos
Advogados paraenses e brasileiros pela Administração da OAB,
deverá ser punida.
Porque macula a instituição e fere os advogados.
E é por isto, que hoje discordo do exercício gratuito dos cargos,
exercido na OAB. Creio que a OAB não se enquadra nos termos
da Lei nº 9.608, de 18/02/1998, que dispõe sobre o trabalho
voluntário.
4
Principalmente com o advento da Instituição do Exame de
Ordem. Onde anualmente seus cofres são abastecidos com
milhares de reais, advindos dos tais exames.
Que seja pago pelos advogados o exercício do cargo, daqueles
que forem eleitos democraticamente de forma clara e
transparente.
Mas que o seja exercido com a dignidade e retidão que a
instituição merece.
Inclusive, em artigo de nossa autoria intitulado: “A Caixa-Preta, o
C.N.J. e os Avanços do Poder Judiciário”, em defesa da criação
do CNJ, que inclusive recebi elogios da Ministra Eliana Calmon.
Assim me manifestei, em seu bojo: “Aos magistrados que
agirem com dolo ou culpa, maculando a dignidade e o decoro
imposto à magistratura nacional, determinados pela vetusta
Loman ou em seu Código de Ética, às “chibatadas” do CNJ!”.
E como disse Heráclito Sobral Pinto, exemplo de Advogado para
todos nós. Na frase lapidar de sua autoria: a “ADVOCACIA NÃO É
PROFISSÃO PARA COVARDES”. Que por sinal, seu nome,
encontra-se ausente nesta frase, que se acha afixada no Plenário
da OAB/PA. Por quê? Não sei!
Em recentes entrevistas aos jornais Paraenses, o Interventor já
pode antever o que pesará sobre seus ombros: “A situação aqui
é muito complexa, mesmo entre os grupos antagônicos existem
subgrupos”. Roberto Busato. (Diário do Pará de 02/11/2011).
Tal manifestação me faz refletir, entristecer e comparar a que
ponto chegou a nossa OAB/PA: Um território, um feudo
comandado por “líderes espirituais” que hoje por interesses
feridos, por interesses pessoais, por interesses políticos, por
interesse totalmente fora da legitimidade da OAB/PA vão para o
combate. Esquecendo que os soldados que os nutrem em nada
5
concorreram para esta batalha: (A maioria dos Advogados
Inscritos e Pagantes de Anuidades). E que o quadro até agora
demonstrado, não terá tão cedo, o seu esperado fim. A exemplo
do que exatamente ocorre, no eterno conflito no oriente médio.
Do jeito que as coisas vão daqui para frente nada mais me
assustará. Inclusive já andam falando em iniciativas de boicote
ao pagamento de anuidades; marchas organizadas pela
sociedade civil paraense e advogados descontentes, contra os
atos ilícitos administrativos, civis e penais ocorridos dentro da
OAB/PA. Conforme os grupos e subgrupos estampam na
imprensa.
Inclusive com pedido de prisão e o bloqueio de bens daqueles
que realizaram tais atos, ou concorreram ou prevaricaram. Sem
direito ao amparo constitucional da ampla defesa e ao
contraditório.
Na mesma proporção e conforme virou moda. O dirigente de
plantão da entidade, afoito e midiático, requerer mesmo sem
legitimidade, a prisão e o bloqueio de bens de terceiros
acusados, prejudicando, inclusive o trabalho dos Advogados, que
a estes defendem, que a estes socorrem.
Como ocorrido recentemente em que a Ordem se prestou a
triste papel do Ministério Público, mandando às favas seus
filiados que atuavam na defesa, que dela mereciam proteção e
apoio. Pedindo a prisão de vários acusados em crimes de
corrupção.
E poder judiciário no exercício de seu "magistério
constitucional", no plenário do Supremo Tribunal Federal, o
ministro Eros Grau, em seu voto condutor assentou e vaticinou -
sob o título "combate à criminalidade no Estado Democrático
de Direito" – que: "em nenhuma sociedade na qual a desordem
tenha sido superada admite-se que todos cumpram as mesmas
6
funções. O combate à criminalidade é missão típica e privativa
da Administração (...), através da polícia (...), e do Ministério
Público".
Vai aqui, ao nobre interventor federal, já a título de sugestões,
algumas tarefas que já deveriam ser implementadas.
Realize o mais breve possível, um belo, exemplar e corajoso
pedido de Auditoria Independente, com atuação clara e
transparente, inclusive com a participação de entidades
profissionais civis e independentes, em todas as contas das
gestões que hoje são manchetes nos jornais e que maculam e
entristecem a imagem da nossa veneranda OAB/PA.
Creio que o maior problema do Interventor Federal será realizar
esta tarefa. Pedir esta tão esperada e sonhada Auditoria. Para
derradeira satisfação de todos os advogados paraenses. Afinal
são suas anuidades, é que se encontra em jogo e no fogo.
E isto me faz lembrar a Ministra Eliana Calmon, em seu recente
artigo, “Bandidos de Toga”, em que chegou a dizer:
“Sabe em que dia vou inspecionar São Paulo. Quando o
Sargento Garcia prender o Zorro”.
O que causou um mal estar geral entre os Magistrados. Mas ao
final, sempre com efeito benéfico e terapêutico.
Senhor Interventor, crie um canal de comunicação entre a
sociedade civil, e os advogados de todo o Estado do Pará. Como
por exemplo: “Fale com o Interventor”.
Sendo vedado o anonimato e aceitando idéias e sugestões.
Quem sabe assim, descobrirá, até novos desmandos. Ou outros
prédios destruídos e outros até em vias de alienação! Quem
sabe? Do jeito que está, parece que tudo é possível!
7
Imponha aos seus Diretores Interventores, que não fiquem
encastelados na sede central. Olhando o tempo passar!
Como se estivessem “Esperando Godot”. Numa espera
infrutífera.
Que visitem as Subseções da OAB/PA.
Onde certamente encontraram algumas até quase sucateadas
por falta de suporte financeiro. Nesta certamente encontrarão
algumas com computador, mas sem internet. Outras sequer com
estrutura condigna para funcionamento. Como sempre sob o
manto de que não há suporte financeiro. Também que visitem
as salas disponíveis para os Advogados nos órgãos do poder
judiciário, onde verão a precariedade em que se encontram
também por falta de suporte financeiro.
Visitem as Comarcas de Varas únicas e ouçam atentamente os
reclamos dos Advogados que ali atuam. Vistoriem os parlatórios
dos Presídios e Casas Penais. Perguntem aos funcionários da
OAB/PA, sobre seus salários e vejam os valores que recebem.
Enfim tantas e tantas tarefas que lhes cabe atuar.
Em face de tudo isto, cabe aqui uma segunda pergunta: Quando
a OAB/PA voltara para sua missão que lhe deu a sociedade, o
legislador constituinte e o infraconstitucional. Quando???
Vamos relembrar aqui algumas atribuições, e para que serve a
nossa veneranda Ordem dos Advogados do Brasil.
É uma instituição que tem uma função pública de autoridade,
exclusiva dela, relativa à seleção e disciplina dos advogados,
assim como exerce um papel protetor, de guardiã, ao assumir a
responsabilidade da representação e defesa de todos eles. Não
prestando contas de suas atividades financeiras a nenhum órgão
quer estatal e muito menos privado.
8
Em paralelo a essas atribuições, cabe à Ordem - tanto quanto a
tantas outras instituições e cidadãos - a tarefa de defender a
Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático de Direito,
os direitos humanos e a justiça social.
Como autoridade, a OAB exerce poder estatal; na atuação de
representação e defesa da classe, cumpre um "mandato
universal" de garantia dos direitos de postulação e de defesa -
que na verdade pertencem às partes, zelando pelas prerrogativas
dos patronos de um lado e de outro.
Já a função política há de ser exercida de acordo com a vontade
legítima dos advogados do Brasil, ao menos de maioria
expressiva deles, que se possa dizer representativa de um
sentimento coletivo, atendendo aos preceitos básicos de
garantia do livre exercício da profissão.
Portanto, não se prestando assim, para a realização da vontade,
do interesse pessoal, do interesse político, de realizações de
sonho, de emprego de familiares em poderes públicos, de
indicações “muitas das vezes sob suspeitas” de seus integrantes
para órgãos públicos, para logo em seguida serem todos
impugnados.
Como também para a indicação do tão sonhado “Desembargo”.
Que muitas das vezes por interesse totalmente fora da
legitimidade da OAB, desgastam a imagem e o respeito da
instituição perante a sociedade brasileira.
E foi pela volta das sérias e legitimas atribuições da OAB/PA, e
pelo resgate da dignidade do exercício profissional dos
Advogados Paraenses, que iniciei uma Greve de Fome, no dia
01/11/2011.
Exatamente as 12: 00 h, em plena Praça do Largo da Trindade,
bem em frente a Seccional da OAB/PA.
9
Como forma de protesto, pelo estado a que chegou a nossa
Veneranda Ordem.
E justamente também no dia da entrada do exercício do cargo do
Interventor Federal, nomeado por Brasília. No que me revoltei!
Por que um Interventor não Paraense? Será que dentre todos os
advogados contribuintes da OAB/PA. Nenhum teria isenção,
independência e imparcialidade para dirigir a nossa casa?
Não precisamos de Interventor de outro Estado para resgatar
nossa Dignidade!
Mas, se é inevitável! Que arregace suas mangas trabalhe e
exerça as funções e atribuições do cargo, que voluntariamente
aceitou, juntamente com a sua diretoria.
E ao final, para dar o exemplo, diga aos advogados paraenses,
prestando contas. De qual o custo financeiro desta Intervenção?
Com todas as suas despesas! Incluindo aí, sua estadia no Hotel
CROWNE PLAZZA BELÉM, de 05 (cinco) estrelas.
E iniciei meu ato protesto dizendo: “A OAB do Pará deveria ser
implodida para renascer de novo. Só dessa forma teremos o
resgate da dignidade do exercício da advocacia”. (Diário do
Pará de 02/11/2011).
E encerrei por força de determinação médica no dia 02/11/2011,
por volta das 14 h.
Portanto, eis acima a razão do meu protesto!
Por que tomei esta atitude? Porque a atitude nasceu de meu
sentimento de cidadania. Porque considero um dever cívico de
um cidadão combater desmandos.
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“E pessoalmente porque não vim ao mundo para levantar
bandeira à subserviência. Humildade sim, subserviência, nunca!”
Afinal desde a antiguidade, os romanos sabiam e proclamavam
em brocardo: "ADVOGADO, PESSOA QUE DEVE SER ADMIRADA
PELO POVO!".
E por derradeiro, cabe aqui uma nova pergunta: Estaria o
sistema OAB, necessitando de um Órgão de Controle Externo, a
exemplo do CNJ, no controle do Poder Judiciário? Espero
sinceramente que ainda não! Mas, se assim, as circunstancias
nos levarem, que paguemos o preço, frente à sociedade.
E neste ato quero agradecer a todas as pessoas físicas e jurídicas
que se sensibilizaram com a finalidade do meu ato-protesto.
As centenas de e-mails e telefonemas que recebi. Aos
transeuntes e pessoas do povo, que se sensibilizaram com meu
gesto.
Aos Advogados Criminalistas Paraenses, bem como os de outras
especialidades do Direito que me apoiaram. E especial ao Dr.
Osvaldo Serrão, decano da Advocacia Criminal neste Estado, que
fisicamente me acompanhou durante todo o meu ato, bem como
através da APJ – Academia Paraense do Júri – entidade da qual é
presidente.
Ao Dr. Roberto Parentoni, Presidente do IDECRIM e Membro da
Seção da OAB/SP pela Nota de Apoio ao nosso protesto.
Aos colegas do IPDD – Instituto Paraense do Direito de Defesa.
Aos Advogados Marco Pina, Cesar Ramos, Bruna Koury, Jânio
Siqueira, Luiz Carlos Pina e Henrique Sauma.
Ao Prof. Ivanildo Alves, ao Dr. Luiz Malcher, Médico, pelo
incansável apoio e preocupação com o agravamento do meu
estado de saúde. A Dra. Kellem Serrão, ao Padre Ronaldo
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Menezes, pela atenção e disponibilidade e uso das instalações da
Igreja da Trindade, em caso de uma eventual chuva torrencial.
E por ultimo ao meu filho Douglas Alex Vieira Santiago, que em
vigília, me acompanhou por toda a madrugada no meu ato
protesto.
E aqui afirmo, que apesar de tudo, ainda continuo acreditando
nos homens e nas Instituições. As administrações passam, as
instituições ficam.
“E como um Bom Soldado, estarei sempre pronto para colaborar,
em quaisquer circunstâncias que envolvam a Determinação e a
Independência da nossa Casa, da nossa OAB/PA”.
Afinal, ninguém é maior que a nossa OAB/PA!
Por fim, como cidadão brasileiro e operador do Direito, faço
estas considerações vinculadas aos princípios da livre
manifestação do pensamento e da atividade intelectual e de
comunicação – na dicção do art. 5º, IV e IX, da Constituição
Federal.
*Advogado Criminalista.
*Ex-Presidente da Comissão de Defesa de Direitos e
Prerrogativas da OAB/PA.
*Presidente do IPDD: Instituto Paraense do Direito de Defesa.
*Membro da APJ: Academia Paraense do Júri.
Belém (PA), 06/11/2011.